sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O tempo dá indícios da chegada do inverno, o termômetro da rua marca 18 graus e eu preciso usar duas camisas de manga comprida; mas um sol insistente - o qual continua sendo a causa do sofrimento dos fardados em câncer, os que não foram zelados pela nova divindade moderna, o Protetor Solar - me cega de um ponto alguns anos-luz mais distante. Odeio esse tempo hipócrita.

Entro no ônibus, pago o cobrador e sento. O sol continua me perseguindo, esguiando pelas janelas de vidro do ônibus, tornando visível impressões digitais dos que tocaram as janelas, assim como a poeira bailarina que flutua guiada pelo seu par, gravidade. Poeira esta, que me é familiar do meu quarto. Avistá-la sempre é um mau sinal. Só pode significar duas coisas: que está calor pra caralho pela quantidade de sol que entra no recinto, e torna a poeira visível; e que o mesmo ainda por cima está sujo.

Maldita poeira, por quê você não some? Me entristece pensar que você ocupa meu quarto, liquidamente, mais do que eu mesmo; vivendo em cada vértice de paredes, estacionada na mesinha de cabeceira e servindo de cobertor aos meus poros. Você só me faz acordar no meio da noite asfixiado no próprio muco; espirrar no meio de séries de televisão e perder momentos cruciais da história, e ainda me sentir um imundo. Só o fato de pensar que no fim da minha jornada eu vou me transformar em você, me deprime mais ainda.

Tô começando a ficar com preguiça de existir. Acho que preciso começar a correr em parques; passear com algum animal socialmente aceito pelas ruas; algo assim banal que me faça sentir mais feliz comigo mesmo. Ultimamente segui o conselho daquelas pessoas que tem a Fórmula da Vida Longa e Estável, zeladores do templo da Rotina. Tenho tentado - sem muito sucesso - encontrar felicidade nas coisas pequenas. Não encontrei-a no sorriso de gengiva de recém-nascidos; nem na água de coco gelada do quiosque da praia nem no rebolado das mulatas da praia num fundo sem foco de uma cena de cinema. Tentei espremê-la de sucos orgânicos revitalizantes; e usurpá-la em delitos envolvendo bombons de mercado, em uma tentativa frustrada de um orgasmo cleptomaníaco. Tudo em vão.

Merda. O ônibus passou do meu ponto.

2 Comentários:

Às 13 de fevereiro de 2010 às 22:16 , Blogger mario jorge disse...

maldito aquecimento global.

 
Às 16 de março de 2010 às 22:30 , Blogger Antonio disse...

hahaha, muito bom

 

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